Por Patrícia Santos
Quando duas pessoas encontram-se e entreolham-se e são atraídas mutuamente, elas se apaixonam e surge o desejo de estar junto, de ficar perto, essa é a primeira fase no relacionamento. Nessa fase um não vê o outro, sente-se atraído pela imagem idealizada, é a fase da paixão. Para que o amor dê certo é preciso seguir para a segunda fase, em que um começa a enxergar o outro e permite-se, também, ser visto livre das idealizações e fantasias. Saber que cada ser é único e traz consigo todo o seu sistema familiar, todos os relacionamentos anteriores e que tudo isso o compõe hoje, e faz parte dele, permite que a relação flua de forma respeitosa.
No livro O Amor que Nos Faz Bem, Joan Garriga compila os ensinamentos de Arnaud Desjardins discípulo do sábio Swami Prajnanpad, trazendo cincos critérios para reconhecer o valor profundo de um relacionamento.
A primeira condição é que o relacionamento seja fácil, flua de forma leve, sem muito esforço. Que não tenha que desperdiçar grandes quantidades de energia em emoções, nem seja obrigado a lutar contra elas. Quando essa condição está presente, existe uma comunhão real, uma comodidade que não é rotineira, na qual não há dramas nem tragédias, só bem estar. Tudo se desenrola com naturalidade, e as coisas são fáceis e leves.
A segunda condição é que se trate de duas naturezas não muito incompatíveis, não muito diferentes. A compatibilidade de qualquer casal descansa sobre a diferença, mas também sobre a possibilidade de associação, imbricação e cumplicidade, com a consciência da capacidade de compreensão e respeito com o mundo do outro tanto quanto do próprio mundo.
A terceira condição é que os dois sejam verdadeiros companheiros, que se sintam como tais, que vejam que o outro é também um amigo e a amizade não se desgasta com o passar dos anos. Que possam compartilhar suas peculiaridades, gostos e interesses, diferenças, cumplicidades. Que tenham alguém a quem entendam e que os entenda. O relacionamento afetivo também é uma relação de acompanhamento em um caminho comum. Ambos se acompanham porque têm propósitos comuns, porque juntos podem olhar para tudo aquilo que é importante para um e para o outro.
A quarta condição é ter fé e confiança plena no outro. Que não seja necessário temer, desconfiar ou proteger-se e que o outro nos inspire completa confiança, sobre a qual se possa alicerçar um amor duradouro, passível de crescimento. Que se tenha a total convicção de que o outro não vai nos prejudicar. Com confiança, sentimos paz, cooperamos e a vida transcorre mais docemente.
Por outro lado, quando surge a desconfiança, instala-se o medo. Se esse sentimento se consolida na relação, começa a inimizade e a única saída é a separação.
A quinta condição é ter o desejo espontâneo de que o outro esteja bem e seja feliz. Ter esse desejo acima dos nossos medos, projeções, anseios ou carências. Trata-se de amar o outro exatamente como ele é. Esta é uma condição difícil de atender porque nos tempos atuais em que se vive um relacionamento mais a serviço do “eu” que do “você” ou do “nós”, é mais comum que a pessoa tenha um impulso de que o outro a faça feliz e não de fazer feliz ao outro. Essa condição consiste em ver o outro com a inteligência do coração. Quando nos alegramos espontaneamente com a felicidade e plenitude do outro e fazemos o que está em nossas mãos para que isso ocorra, sentimos uma alegria redobrada.
Esses critérios norteiam a relação a dois e tornam-se desafiadores quando o individuo traz feridas profundas na alma e transferem para o parceiro a responsabilidade pela sua cura, como se o dever de curar estivesse fora e não dentro de si. Reconhecer sua própria dor sabendo que o outro também traz suas dores respeitando a individualidade e o poder de cada um, deixa a relação mais leve e possibilita o crescimento através do amor.
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Formada em Administração com Habilitação em Recursos Humanos
Personal Professional Coaching
Terapeuta Sistêmica