Patrícia Santos

Pais e avós: as dinâmicas envolvidas na troca de papéis

Patrícia Santos

Quando um casal decide dar o próximo passo e transformar a relação a dois numa família, muitas dúvidas e incertezas passam a permear a relação: ‘está na hora?’, ‘estamos prontos?’, ‘como será?’. Por essas dúvidas, esse desejo fica para depois, primeiro estudar, crescer profissionalmente, estabilizar financeiramente e assim por diante, até que a vida se faz em meio a uma rotina atribulada: a alegria, o amor, o medo, a insegurança…
Com a chegada do filho é essencial ter uma rede de apoio, ter com quem contar, os avós exercem um papel primordial, trazem a experiência e a leveza, transbordam amor. É nesse contexto que a ordem costuma inverter, os pais inseguros buscam seus pais para ajuda-los e transferem para eles o papel da educação de seus filhos. Outro movimento comum acontece com a tentativa dos avós de reparar as falhas que tiveram com seus filhos, tornando-se permissivos na relação com os netos, deixando as crianças muito livres sem conhecer os limites, no tempo que ficam com eles. Os avós têm força como avós, os pais têm força como pais, essa transferência enfraquece a relação e a criança fica confusa e perdida.
Ao tornar-se pais é importante reconhecer esse novo papel, com tudo que ele traz, a rotina muda, as prioridades também. Conhecer os sentimentos, as emoções e o desejo de fazer diferente dos pais, sem críticas e com muito respeito. Quando os pais criticam os próprios pais tendem a ficar mais inseguros e desconfiados, conectados a falhas e exigências, nessa dinâmica acabam terceirizando a maternidade, saem de seus lugares, deixando os filhos com os avós, esperando que façam melhor. Assim todos ficam fora do lugar, enfraquecidos.
Uma fala comum dos avós é que poderão ser melhores como avós do que foram como pais, esse pensamento leva a um enfraquecimento, por traz dessa fala existe lamentação e julgamento, como se não fossem bons o suficiente como pais e agora como avós poderão reparar isso. Os pais mesmo quando erram, normalmente erram tentando acertar e é graças a imperfeição dos pais que os filhos crescem, fortalecem e amadurecem, faz parte da vida. Para os avós, o primeiro passo é se reconciliarem como pais, enxergando além das falhas, fizeram o possível para seus filhos e deu certo, tanto que passaram a vida adiante, transformando-os em avós. Ser avô, ser avó é simplesmente exalar sabedoria e transbordar amor, como avós, respeitando o lugar da mãe e do pai, respeitando também os erros deles, eles aprenderão com a experiência.
Tanto os pais como os avós quando estão presos a lamentações e julgamentos ficam inquietos com relação ao passado, olhando para as faltas, para a dor e o sofrimento, esquecem-se da parte boa, amorosa e feliz. Olhar para o passado fazendo dele referência e combustível para viver o presente construindo o futuro, libera. Olhar para os próprios pais reconhecendo que aquilo que receberam foi o suficiente, o possível, fortalece, assim podem transbordar para os próprios filhos, com alegria. Assumir o próprio lugar, deixar de ser pais dos pais, estar na postura de filho, de pequeno diante dos pais, engradece e fortalece na relação com os filhos. Essa postura cura e mesmo que os avós cuidem dos netos poderão fazer isso no lugar deles e a criança fica leve e feliz, ela pode amar os pais e os avós, sente a integração.

Imagem Drazen Zigic Freepik

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Formada em Administração com Habilitação em Recursos Humanos
Personal Professional Coaching
Terapeuta Sistêmica