Patrícia Santos

Afinal, o que representa a herança?

Por Patrícia Santos

De acordo com o dicionário, herança é a ação de herdar por sucessão, para o Direito é o patrimônio, bens materiais e até mesmo dívidas deixadas por razão de falecimento. Quando uma pessoa falece, seu patrimônio é deixado para os seus sucessores e é realizada a partilha, é nesse momento que costuma surgir conflitos e disputas e em alguns casos essa partilha vai parar na justiça por não haver acordo entre os herdeiros.

Pela visão sistêmica a herança é um presente e é mais abrangente, o ser humano é herdeiro de tudo o que veio antes, desde a cultura, costumes, crenças,  inclusive a herança genética, que vem através das memórias transgeracionais. Quando a pessoa recebe a força que vem de todos que viveram antes dela e tem alegria, ela vive com mais leveza e fluidez, porém quando nega suas origens ou conecta-se com a dor e a parte sofrida dessa historia tem a tendência a trilhar com muitos desafios pelo caminho da vida. Conhecemos através da História os desafios enfrentados por nossos ancestrais e enxergar além desses desafios, torna possível a conexão com a coragem, a grandeza e a dignidade deles, pois foi graças a tudo isso que hoje estamos aqui e não nos cabe julgar o passado e sim reconciliar com ele.

A dinâmica é a mesma quando existe herança patrimonial, a postura ideal é recebê-la como um presente e não como um direito, porém no momento da partilha, é comum iniciar uma disputa por direitos e os herdeiros entram num conflito e numa disputa que em muitos casos só é resolvida com a intervenção da Justiça. Quando isso acontece, no fundo no fundo, de forma inconsciente, não estão disputando os bens e sim o amor dos pais. Nesse momento vêm a tona as feridas e as dores, desde a infância e aquela disputa recomeça com intensidade. Quem nunca ouviu?  “ fulano é o preferido do meu pai, e ciclano da minha mãe e nenhum deles liga pra mim”. Essas falas continuam adormecidas dentro do adulto e no momento da partilha aquele sentimento vem, trazendo memórias de rejeição e tentando se proteger dessa dor, passa a se expressar em forma de exigência, assim a herança deixa de ser um presente e perde o seu valor.

Segundo Bert Hellinger quando a herança é exigida a vida congela, paralisa e a herança se perde. ‘Como  pode se beneficiar com a morte de alguém’?, ele traz essa reflexão. Só é possível respeitando tudo o que a pessoa construiu e todos os seus sucessores, num olhar de igualdade reconhecendo o lugar de cada um, sabendo que cada um tem o seu lugar e ninguém precisa invadir e nem temer ser invadido. Com essa postura respeitosa a herança serve a vida e prospera. Então ao invés de olhar diretamente para a herança, como um direito e com medo de ser passado para trás, que tal olhar além, para tudo o que veio antes e se colocar no seu lugar respeitando o lugar de todos os outros.

De forma geral a herança representa tudo o que recebemos direta e indiretamente através da sucessão, sendo assim recebe-la como um presente e fazer algo bom com tudo o que foi recebido é a melhor forma de agradecer. Bert Hellinger, em seu livro “Ordens do Amor, p. 170”, assim nos ensina: “A única maneira adequada de receber algo do destino é tomar como um presente o bem que nos toca sem merecimentos. Isso significa agradecer. Agradecer é tomar sem soberba. É uma forma de compensar sem pagamento. Agradecer assim é totalmente diferente de dizer “obrigado”. Quando dou algo a uma pessoa e ela apenas agradece, é muito pouco. Mas quando fica radiante e diz: “É um belo presente”, ela agradeceu e honrou a mim e a dádiva. Em contraposição, dizer “obrigado” é frequentemente apenas um substitutivo do verdadeiro agradecimento” Agradecer vai além das palavras, a verdadeira gratidão acontece com o movimento em direção a vida.

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Formada em Administração com Habilitação em Recursos Humanos
Personal Professional Coaching
Terapeuta Sistêmica