Igor Andrade

Compras Conscientes em Tempos de Ofertas: Redefinindo Prioridades na Black Friday

Por Igor Andrade

Na era do consumismo, especialmente durante eventos como a Black Friday, a pressão para consumir pode aumentar consideravelmente, levando a um distanciamento de uma vivência mais autêntica. O ato de consumir em si não é necessariamente problemático quando realizado de maneira consciente, porém, quando se percebe angústia diante da abundância de opções e da liberdade de adquirir tudo o que é do campo do desejo, revela-se uma inquietação subjacente em relação à liberdade. Surge, portanto, a relevância de analisar a importância do autoconhecimento e da busca por experiências mais significativas na vida, explorando vivências enriquecedoras que vão além da mera aquisição de bens materiais, enfatizando o valor do desenvolvimento pessoal.

As escolhas de consumo vão além das simples transações comerciais. A aquisição de produtos atravessa os domínios subjetivos e individuais de valores, identidades e necessidades. Dessa forma, é esperado que as aquisições reflitam sobre o considerado crucial e valioso na jornada da vida. Estar ciente que, no atual cenário de consumo, as influências externas têm impacto significativo na individualidade, pode ser fundamental para nortear o que se busca no consumo. Essas influências podem distorcer os desejos, afetar os valores fundamentais e moldar a complexa estrutura emocional e psicológica do indivíduo. Repensar os padrões de consumo pode, assim, se tornar uma reflexão funcional para a existência. Questões como “Será que isso é imprescindível?” ou “Essa aquisição está em harmonia com os meus princípios e objetivos?” são ferramentas úteis para repensar e ajustar as decisões de compra, e apontar o consumo em direções mais conscientes e alinhadas com a identidade própria. É, portanto, viável buscar um consumo mais ponderado, ético e sustentável.

Observa-se no consumo disfuncional uma insatisfação contínua, caracterizada por um ciclo constante de aquisição de produtos que não pode proporcionar contentamento duradouro. Esse padrão pode resultar em endividamento e estresse financeiro, afetando significativamente a existência. Além da cultura atual de consumo, nota-se uma obsolescência intrínseca em produtos que incentivam uma troca cíclica. Essa prática não apenas alimenta essa insatisfação crônica, mas também gera impactos ambientais que estão intrinsecamente ligados à sustentabilidade e à sobrevivência a longo prazo.

Ao questionar o prazer superficial do consumo, pode-se evidenciar a busca por um caminho mais gratificante por meio de indagações internas, apontando para uma via mais funcional de satisfação do prazer. Uma abordagem eficaz para pensarmos a responsabilidade, nesse âmbito, é considerar, para além da aquisição em si, as experiências e memórias que os novos produtos podem proporcionar. Avaliar como essas aquisições podem aproximar a essência humana e fortalecer os laços interpessoais pode ser uma alternativa viável. Não se trata apenas do ato de consumir, mas também da qualidade das experiências vividas, dos relacionamentos e do valor inerente à conquista desses objetos. Para além do desejo ligado ao produto, pode ser proveitoso cultivar práticas que conectam o indivíduo com o momento presente, permitindo a exploração das questões da existência na sua plenitude, em vez do foco intimamente na obtenção de bens materiais.

Imagem Freepik

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Psicólogo clínico
CRP-04/74186