Por Frei Jacir de Freitas

Hoje é Natal! Na inspiração de João, o evangelista, que, segundo a tradição, é representado pela águia, por nos apresentar, com suas reflexões, a profundidade do mistério de Deus no meio de nós, estão as primeiras palavras do livro de Gênesis: “No princípio, Deus criou com a sua palavra” (Gn1,1), as quais ele acrescenta: no princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus. Na Palavra de Deus está a vida, vida que é a luz para os nossos passos, luz que ilumina as trevas de nossas vidas. Luz que é sinônimo de Natal.

A mulher grávida de sonhos dá à luz uma criança, um bebê que simboliza a esperança. O que será de sua vida? Nem a criança, tampouco a mãe o sabe. Basta esperar e sonhar. Por isso, Natal é também o maior simbolismo do sonho de um novo tempo, como na lenda egípcia da fênix que renasce das cinzas ou do pelicano que renasce a partir do seu próprio sacrifício.

O nosso eterno poeta, João Guimarães Rosa, escreveu em Grandes Sertões: Veredas: “nasce uma criança, tudo começa de novo”. Isso é Natal! Deus se fez carne na criança de Belém, mas a mudança só pode vir do adulto Adão e Eva, imagens figurativas da Palavra criadora de Deus. Ele se fez criança, mas nos criou adultos, de modo que tomemos consciência de nossas limitações, dos sofrimentos que invadem as noites escuras de nossas vidas. Deus se fez carne, isto é, nos assumiu por inteiro na nossa humanidade que recebe a luz que vem Dele.

O adulto Adão, que nunca foi criança, contrasta-se com a criança de Belém. Simples de entender. Para o judeu do Primeiro Testamento, o homem novo só pode vir do adulto, pois criança não tem valor. Para os cristãos do Segundo Testamento, o novo começa do princípio de uma vida que nasce cheia de esperança, na experiência de Deus que se faz pequeno.  Na verdade, somos eternamente crianças que esperam e adultos ansiosos por renascer, por recomeçar.

É Natal, princípio da Palavra recriadora de Deus. Para que no ano novo renasça um novo ser humano, tudo depende de nós, de novas relações. Que a Luz de Deus do Natal brilhe em carne, em nosso ser. E tudo será diferente. Acredite. É Natal!

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Frei Jacir de Freitas Faria é Frade Franciscano da Ordem dos Frades Menores e Presbítero. Estudou no Pontifício Instituto Bíblico de Roma, onde obteve o título de Mestre em Ciências Bíblicas. Doutor em Teologia pela Faje (BH). Complementou os seus estudos no México e Israel, onde fez, respectivamente, cursos de Leitura Popular da Bíblia, Arqueologia, Geografia e Topografia de Israel e Jordânia. Pesquisador da literatura apócrifa, os 180 livros que não foram reconhecidos como inspirados pela Igreja, Frei Jacir tem contribuído para a pesquisa e compreensão dessa literatura de forma crítica e ecumênica. Sobre essa temática, o seu último livro é: O Medo do Inferno e a arte de bem morrer: da devoção apócrifa à Dormição de Maria às irmandades de Nossa Senhora da Boa Morte. Petrópolis: Vozes. Professor de Exegese bíblica. Foi reitor do Instituto São Tomás de Aquino (ISTA/BH) e Diretor Geral e Pedagógico dos Colégios Santo Antônio e Frei Orlando, ambos em Belo Horizonte (MG). Avaliador Institucional do MEC. Membro efetivo, ocupante da cadeira nº 20 da Academia Divinopolitana de Letras, bem como da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Tem publicado 25 livros, sendo um como organizador, dez autoria e quatorze em coautoria. Tem publicado mais 200 artigos em revistas e jornais.