Por Frei Jacir de Freitas

Na transfiguração de Jesus, Pedro toma a palavra e lhe diz: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias.” (Mt 17,4). Pedro intuiu corretamente que Deus estava ali, naquele momento sublime, no qual Jesus toma a aparência divina. Era preciso armar uma tenda, de modo aquele momento não terminasse nunca. Armar três tendas é falar Deus que deixou sua marca no tempo e no espaço de nossa existência. Sabe o porquê?

Em tudo está o três. Nós somos formado de corpo, espírito e mente; a natureza é formada pelos reinos animal, vegetal e mineral; no cristianismo, Deus é Pai, Filho e Espirito Santo;o hinduísmo tem três divindades: Brahma, Shiva e Vishnu; no judaísmo, o três representa o divino: céu, firmamento e Xeol; três são os amores: o do desejo erótico, o de filho e o fraterno; Pedro negou Jesus três vezes; o diabo tentou Jesus três vezes; três são os reis magos; a sagrada família é formada por José, Maria e Jesus; com 33 anos, Jesus morreu às três horas da tarde e ressuscitou no terceiro dia; o credo de fé judaico convoca o fiel a amar a Deus com o coração, a alma e o dinheiro (Dt 6,4-9); Jesus ensinou que a religião deve ser vivida a partir das práticas da oração, do fazer esmola e do jejum. Na missa, três vezes é cantado:‘Senhor tem de piedade de nós’,e “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. A nossa vida é constituída de passado, presente e futuro, assim como de princípio, meio e fim; nascemos, vivemos e morremos.

Quando Pedro sugere a Jesus que sejam feitas três tendas, ele expressa sua certeza de que a Lei (Moisés), o Profetismo (Elias) e o Messias (Jesus) permaneceriam para sempre no meio deles. Sem leis, sem o profetismo que as atualiza e sem a presença de Deus (Jesus) no meio de nós, a vida não transfigura para suportar as dores do viver, nas tendas da existência que apontam para o Infinito. Que o três nos inspire ações trinitárias em favor da vida de Deus que palpita em nossa cabeça, corpo e tronco. Amém! Amém! Amém!

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Frei Jacir de Freitas Faria é Frade Franciscano da Ordem dos Frades Menores e Presbítero. Estudou no Pontifício Instituto Bíblico de Roma, onde obteve o título de Mestre em Ciências Bíblicas. Doutor em Teologia pela Faje (BH). Complementou os seus estudos no México e Israel, onde fez, respectivamente, cursos de Leitura Popular da Bíblia, Arqueologia, Geografia e Topografia de Israel e Jordânia. Pesquisador da literatura apócrifa, os 180 livros que não foram reconhecidos como inspirados pela Igreja, Frei Jacir tem contribuído para a pesquisa e compreensão dessa literatura de forma crítica e ecumênica. Sobre essa temática, o seu último livro é: O Medo do Inferno e a arte de bem morrer: da devoção apócrifa à Dormição de Maria às irmandades de Nossa Senhora da Boa Morte. Petrópolis: Vozes. Professor de Exegese bíblica. Foi reitor do Instituto São Tomás de Aquino (ISTA/BH) e Diretor Geral e Pedagógico dos Colégios Santo Antônio e Frei Orlando, ambos em Belo Horizonte (MG). Avaliador Institucional do MEC. Membro efetivo, ocupante da cadeira nº 20 da Academia Divinopolitana de Letras, bem como da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Tem publicado 25 livros, sendo um como organizador, dez autoria e quatorze em coautoria. Tem publicado mais 200 artigos em revistas e jornais.