Frei Jacir de Freitas

São Francisco de Assis e a conversão ecológica

Por Frei Jacir de Freitas

Numa choupana, no anoitecer do outono de 03 de outubro de 1226, na bucólica Assis, na Itália, São Francisco morreu. Conforme uma tradição, ele pedira para morrer nu e que fosse colocado nu sobre a terra nua. Não sabemos se, de fato, isso aconteceu. Com esse gesto Francisco mostrou o seu desejo de morrer integrado com a mãe terra. Já debilitado, Francisco de Assis morreu rezando e cantando louvores às criaturas e à irmã morte.

Nascido no ano de 1182, na úmbria italiana, Francisco foi um homem que esteve além do seu tempo, ao cantar o amor pela natureza no seu conhecido e eternizado em muitas vozes “Cântico do Irmão Sol”. Escolhido como patrono da Itália e da Ecologia, por João Paulo II, em 1979, São Francisco é lembrado como o homem da “Paz e do Bem” por proclamar que a natureza é a mais alta glorificação do Criador, e que nela somos todos irmãos. É também a paz e não às armas!

O olhar de São Francisco é ecológico e não romantizado, como querem alguns. No mundo medieval marcado pela indústria do vidro que queimava madeira, pelos cortumes e abates de animais que poluíam as águas, Francisco clama, já naquela época, por um cosmocentrismo, isto é, a natureza e não o ser humano deve estar no centro da criação, do mundo, do cosmos.

Para São Francisco, o ser humano não vale mais que os outros animais, as aves, os peixes e as flores. Não somos superiores a eles. Isso é incrível! Um homem medieval intuir que a vida merece respeito na sua diversidade, que somos parte da cadeia evolutiva da vida e não somos os atores principais, no máximo regentes. E quando não agimos assim, a natureza dá seu recado. Que o diga a entrada do coronavírus no corpo humano.

São Francisco foi um profeta que nos convoca a uma conversão ecológica que inclui a natureza e o ser humano. É como disse o Papa Francisco, num discurso na ONU, em 2020: “A crise ambiental é intimamente ligada à crise social e que o cuidado com o ambiente exige uma abordagem abrangente para lidar com a pobreza e combater a exclusão”.

Não basta cantar com São Francisco: “Louvado sejas meu Senhor com todas as tuas criaturas!” É preciso buscar novas relações fraternas entre o ser humano e a natureza. “A criação geme em dores do parto” (Rm 8,22). A vida no planeta depende de nós, de uma visão de fraternidade universal humana e ecológica, sem desperdício, sem consumismo desvairado que agride a natureza, mas protegendo o biossistema que clama por paz e bem. E isso depende de mim, depende de você, depende de nossa conversão ecológica. Paz e Bem!

Capa: Imagem Freepik

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Frei Jacir de Freitas Faria é Frade Franciscano da Ordem dos Frades Menores e Presbítero. Estudou no Pontifício Instituto Bíblico de Roma, onde obteve o título de Mestre em Ciências Bíblicas. Doutor em Teologia pela Faje (BH). Complementou os seus estudos no México e Israel, onde fez, respectivamente, cursos de Leitura Popular da Bíblia, Arqueologia, Geografia e Topografia de Israel e Jordânia. Pesquisador da literatura apócrifa, os 180 livros que não foram reconhecidos como inspirados pela Igreja, Frei Jacir tem contribuído para a pesquisa e compreensão dessa literatura de forma crítica e ecumênica. Sobre essa temática, o seu último livro é: O Medo do Inferno e a arte de bem morrer: da devoção apócrifa à Dormição de Maria às irmandades de Nossa Senhora da Boa Morte. Petrópolis: Vozes. Professor de Exegese bíblica. Foi reitor do Instituto São Tomás de Aquino (ISTA/BH) e Diretor Geral e Pedagógico dos Colégios Santo Antônio e Frei Orlando, ambos em Belo Horizonte (MG). Avaliador Institucional do MEC. Membro efetivo, ocupante da cadeira nº 20 da Academia Divinopolitana de Letras, bem como da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Tem publicado 25 livros, sendo um como organizador, dez autoria e quatorze em coautoria. Tem publicado mais 200 artigos em revistas e jornais.